terça-feira, 31 de julho de 2007

E se um dia...


...me perguntarem qual é o melhor disco de música portuguesa de sempre.


A resposta está na ponta da língua (neste caso, dos dedos).

GNR

Psicopátria

1986

Silly Season

Já de há uns anos para cá que a nossa imprensa e televisão adoptou o chavão "silly season" para o mês de Agosto. É o mês em que não se passa nada para além das festas populares nas vilas e aldeias do país e das festas populares nas discotecas algarvias. No que à música concerne, o verão é a época das canções parvas. As canções parvas de verão, normalmente vêm acompanhadas, tipo pague um leve dois, com uma coreografia empacotada ainda mais parva. Assim de repente, lembro-me do Saturday Night, da Macarena, das Ketchup, e, já não sei se foi no ano passado ou há dois anos, aquele autêntico hino à imbecilidade que era o Dragostea din tei (ou lá como é que se escreve esta treta em romeno...). Este ano, ainda não dei por nada, mas elas andam aí...

Now Playing...

"Cafe Montmartre"
Stan Getz
Universal - 2003

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Esqueleto da semana.



Há um senhor nascido no Texas, chamado Marvin Lee Aday, que no mundo da música é conhecido por Rolo de Carne. Meatloaf, na língua dele. Meatloaf tem um lugar na minha galeria dos esqueletos no armário. É certo que a sua música roça a pimpineira, mas o grande culpado é o Jim Steinman, o compositor por trás dos sucessos de Meatloaf, culpa que aliás é amplamente provada pelos desgraçados trabalhos a solo de Steinman.
Mas Meatloaf tem virtudes. A maior delas, é a sua força interpretativa, o seu fraseado sem um pontinho que seja fora do sítio e a forma como confere movimento e propositada teatralidade às canções que canta. Meatloaf é uma personagem criada por ele próprio. Teatral, como disse há pouco, muito enérgico e formando uma rara unidade com a sua música. Basta ver o vídeo da canção que dá título ao "Bat out Of Hell" ou o "Paradise By The Dashboard Light", com um dueto muito bem conseguido com Ellen Foley (que não é quem aparece no teledisco, qual Milli Vanilli), e até o inenarrável "I'd Do Anything For Love (But I Won't Do That)", dueto com Ms. Loud que muito rodou na MTV em 1993.
Quer se queira, quer não, “Bat Out of Hell”, de 1977, é um dos discos da história do rock. A Valentim de Carvalho, quando lançou a promoção "Obrigatório - Discografia Básica", considerava-o, aliás, o meu exemplar ainda tem o autocolante vermelho que o diz. Melodramático quanto baste, muito ao estilo ópera rock (haviam já passado 8 anos desde o lançamento de "Tommy", dos The Who, que abriram o caminho) e assumidamente ligeirinho e descomprometido, assumindo o kitsch como intencional.
Outra das características de Meatloaf é o facto de ser o autor dos títulos mais estúpidos, mas mesmo, mesmo estúpidos, que existem para canções. Por causa da temperatura de hoje, lembrei-me do “Out Of The Frying Pan (and Into The Fire)”. Mas há mais: o já referido "Paradise By The Dashboard Light", e no verdadeiro tiro no pé (e nas orelhas de quem o ouve) que foi “Bat Out Of Hell II: Back Into Hell”, um dos discos mais ridículos de que há memória, há pérolas da criatividade tais como: “Life Is A Lemon And I Want My Money Back” ou “Objects In The Rearview Mirror May Appear Closer Than They Are”.
Uma sugestão ao Sr. Rolo de Carne, para uma eventual crise de inspiração: “I am Blue and Eat Potatoes”, “My Washing Machine is Broken and Africa is large and hot” ou até “I Shot My Father With a Cucomber And My Feet Smell Like Cheese”

E como ia dizendo...

Arte.

Ou ouves ou levas!

Sábado à noite tive oportunidade de ouvir uma entrevista ao José Cid, no telejornal da TVI, ou melhor, levei com uma entrevista ao senhor do macaco e da banana no telejornal da TVI. Sobre o José Cid e esta inusitada onda de revivalismo à volta dele, dedicarei um destes dias uma postadela inteira. Mas do que queria mesmo falar era da parte final da entrevista, depois de concluída a auto-glorificação do artista, quando a conversa resvalou, como é hábito de cada vez que se entrevista um músico nacional, para a protecção da música portuguesa.
Quanto a esta questão, não deixa de ser paradoxal que os reivindicantes que surgem em primeira linha são o Vitorino, que compõe umas canções sobre matraquilhos, o Janita Salomé que vocifera umas grandes secas em alentejano e o Toy, que dispensa qualquer adjectivação, que decerto seria redutora. Temos por um lado uns intelectuais de esquerda, de boina e bigodinho, a querer estalinizar as estações de rádio e obrigá-las a passar a sua música, chata e datada; e por outro lado, os cantores populares que tocam músicas absolutamente desadequadas às principais estações de rádio. Faria algum sentido sintonizar a Antena 1 e levar com o “Chama o António”? Também me parece que não…
Em Portugal faz-se boa música, quer no mainstream, quer nas franjas. Temos produtos bem conseguidos e que vendem muito bem, do que são paradigmático exemplo os Da Weasel, os Buraka Som Sistema, o David Fonseca, o André Sardet (para quem gosta…), os sempre presentes GNR e Xutos & Pontapés, e muitos outros. Temos música de enorme qualidade, como a que é feita pela Maria João e Mário Laginha, pelos Clã, pelos Madredeus e pela Mariza (para quem gosta…). De fora não podem ficar grandes produtos no nosso underground, como os Mão Morta ou até os Ornatos Violeta. Curiosamente, estes não se queixam. Os do mainstream porque têm airplay, e um airplay merecido, as estações passam-nos porque querem e não porque as obrigam, e os restantes porque têm um público determinado, para o qual releva menos a rádio do que as lojas de discos e os concertos.
A música é uma linguagem universal é a arte de juntar sons dispersos e deles criar uma harmonia (concepção a que não será subsumível a música de Stockhausen, Emmanuel Nunes, Stephen Micus ou Fred Frith, mas isso é outra conversa…). A língua pouco importa, e muito menos o país onde ela é produzida. Eu gosto dos Clã porque gosto e não porque cantam em português. Eu adoro a música da Maria João, que canta em indecifrável “mariajoanês” e sou um admirador confesso, como já aqui disse, de Nusrat Fateh Ali Khan, de quem não entendo uma palavra que seja.
No que à rádio concerne, desde que estragaram a Rádio Comercial, que deixou de ser, como ela própria anunciava “a rádio rock”, para ser mais uma debitadora de Eros, Tinas, Phils e quejandos, que optei por ouvir as notícias da TSF. A TSF que, por acaso, até nos vai presenteando com algumas agradáveis surpresas, aliás, foi a ouvir uma entrevista ao Diego El Cigala no “Pessoal e Transmissível” que o descobri. Enquanto ouvinte, sinto-me agredido na minha liberdade se me obrigam, a pedido dos intelectuais dos subsídios, a levar com a música portuguesa à pressão só para justificar o sustento de cantores de intervenção fora de tempo. É exemplificativa a “Quinta dos portugueses” da Antena 3, é um autêntico massacre, ainda por cima no auge da moda do hip-hop, em que somos obrigados a ouvir, durante um dia inteiro, uns hip-hoppers de terceiríssima categoria a debitar rimas foleiras, temperados pelo último sucesso dos Delfins ou dos Santos & Pecadores. Vá lá que não toca o Beto ou a Rita Guerra…
Se eu fosse músico, gostava que a minha música passasse na rádio por vontade de quem faz as playlists e por vontade do público. Gostava que a minha música tivesse um valor que justificasse o seu sucesso. Não me sentia bem se a minha música fosse imposta à força às pessoas. Mas os senhores da boina lá sabem…

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Aquelas mesmo especiais...

Sim, admito que hoje estou estou numa autência verve bloguística. E vou aproveitá-la para falar de um dos temas que tinha que ter, mais tarde ou mais cedo, obrigatória presença neste espaço. Dada a sua especificidade, importância e dificuldade, vou fazê-lo em tranches.
Todos nós temos músicas que são mesmo, mesmo, especiais.
Aquelas que não nos cansamos de ouvir, que nos fazem sentir levezinhos por dentro e nos deixam um indisfarçável sorriso de satisfação por nos termos lembrado de pegar no disco. Aquelas que só podemos ouvir de olhos fechados e rodeados do mais profundo silêncio.
Aquelas que nos fazem sentir os pés levantar do chão, não a dançar mas a levitar.
Cá vão algumas das minhas, sem que a lista represente qualquer ordem de preferência:

- Black Sabbath - Hand of Doom
- Simon & Garfunkel - Bridge Over Troubled Water
- Edvard Grieg - Morgenstimmung (Peer Gynt Suite)
- Iron Maiden - Hallowed Be Thy Name
- Jeff Buckley - Morning Theft
- The Housemartins - He Ain't Heavy, He's My Brother (a capella)
- Deep Purple - Child In Time
- Marvin Gaye - Sexual Healing
- Bruce Springsteen & The E Street Band - I'm on Fire
- The Righteous Brothers - Unchained Melody
- (continua...)

Kaiowas

"Kaiowas", do álbum "Chaos A.D.", de 1993, dos Sepultura. Ainda noutro dia tentava eu explicar ao meu pai (que, como já aqui disse, é um "classicista" radical, que o heavy-metal (o bom, pelo menos) é tão rico como a música clássica. "Kaiowas", escrito em homenagem à tribo índia com o mesmo nome que cometeu suicídio colectivo em protesto contra a destruição da Amazónia, é mais evidente prova de tal facto.

Speed

Deve por estar na eminência de entrar em fim-de-semana, ainda para mais fim-de-semana com sol e sem trabalho acumulado durante a semana. Assim sendo, apeteceu-me fazer um brainstorming e ver se me lembrava da música mais speedada que alguma vez ouvi. Lembrei: "Black Wind, Fire & Steel", do álbum "Fighting the World", de 1987, dos Manowar.
Não preciso de chegar a Segunda-Feira, para me lembrar da música mais lenta, chata e pachorrenta que ouvi, "I'm Not In Love", do álbum "The Original Soundtrack", de 1975, dos 10cc (não resisto a contar que o nome da banda, 10cc, foi escolhido por representar a quantidade de sémen produzido em média por uma ejaculação...)

Trade winds find galleons lost in the sea.



"Carry me caravan take me away


Take me to Portugal, take me to Spain


Andalucia with fields full of grain


I have to see you again and again"

Jim Morrison.

Spanish Caravan
The Doors
Waiting for the Sun
1967

Ó Elvis, Ó Elvis...


O músico mais subvalorizado de todos os tempos é, de muito longe, o Elvis Presley.
A dimensão da subvalorização do Elvis é mais ou menos equivalente à diametramlente oposta sobrevalorização dos Pink Floyd ou dos Smashing Pumpkins...

E porquê que não ligamos nenhuma ao Elvis?

Ora deixa lá ver...

1) A poupa;

2) o Blue Suede Shoes;

3) os "Elvis Impersonators";

4) o Cadillac cor-de-rosa;

5) a Lisa-Marie Prelsey;

6) a injusta comparação com os Beatles;

7) os fatos tipo carnaval de Loulé;

8) o seu abanar da pelvis;

9) o It's Now or Never;

10) os UB40 fazem covers de canções do Elvis.

Porquê que é tão injusto não darmos valor ao Elvis e às pérolas perdidas no meio do seu repertório, escondidas por trás da imagem foleira do gordo de poupa vestido como o José Castelo Branco para ir à feira de Carvavelos:

Fácil (e sem qualquer ordem de preferência):

1) In The Ghetto;

2) Marie's the Name (His Latest Flame);

3) The Wonder of You;

4) Heartbreak Hotel;

5) All Shook Up;

6) Hound Dog;

7) Suspicious Minds;

8) I Just Can't Help Believin'

9) Always On My Mind;

10) Jailhouse Rock.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Black Sabbath - Paranoid

"Make a joke and I will sigh and you will laugh and I will cry
Happiness I cannot feel and love to me is so unreal
And so as you hear these words telling you now of my state
I tell you to enjoy life I wish I could but its too late."








A última quadra da melodramática "Paranoid", de 1971, dos Black Sabbath esconde por trás de uma aparente superficialidade da belíssima letra a magia de, na brilhante interpretação da banda e de Ozzy Osbourne no cantar dos versos, fazer quem a ouve partilhar a depressão e isolamento social e psicológico que lhe subjaz (o que não é simpático mas é bonito).

Ora, fazer passar um lamento pré-suicida numa canção up-tempo, e não na expectável balada arrastada, é obra. A canção é toda ela rage e a raiva está todinha lá, numa linha de baixo extraordinária de Geezer Butler em harmonia perfeitinha com a guitarra de Tony Iommi e a bateria de Bill Ward.


Noto que os Black Sabbath são confessadamente a minha banda de eleição (na fase 1970-78) e que, por essa razão e inerente responsabilidade não foi ainda objecto da devida e muito merecida postadela. Antevendo a inevitável pergunta "Mas onde é que tu vais buscar estas coisas tão esquisitas?", deixo já aqui a promessa de contar a história...

terça-feira, 24 de julho de 2007

História do Rock

Lição n.º 1: The Kinks

"Twenty-nine pearls in your kiss
A singing smile
Coffee smell and lilac skin
Your flame in me"

Jeff Buckley
"Everybody here wants you"
Sketches for My Sweetheart The Drunk
1998

Esqueletos no armário.

Não consigo disfarçar o esgar de um sorriso de condescendência quando ouço os Kiss.
Abundantemente temperados em azeite, não deixam de ter o seu lugar na história da música, ao lado de Gary Glitter, Alice Cooper e os New York Dolls, ou até dos Twisted Sister.
São uma das clássicas bandas de glam rock, com um visual muito típico, espalhafatoso, com fogo, faíscas e foguetes, e a teatralidade inerente.
Após uma carreira de quase 30 anos, juntaram-se num MTV Unplugged, em 1996, com os membros originais, Peter Criss e Ace Frehley, que haviam há muito seguido o seu caminho noutro sentido, e pela primeira vez actuaram sem maquiagem (sendo que o Gene Simmons fica ainda mais assustador sem ela...).
Ainda este fim de semana estive a ouvir com alguma atenção o disco que registou esse espectáculo, do qual tenho também o registo em vídeo, e vibrei ao som de plaster caster, domino ou nothin' to lose. Sem vergonha nenhuma.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Arte


Andy Warhol,
para "The Velvet Underground & Nico"
1967

Amy Adega



Porquê que eu não gosto de Amy Winehouse?

Bom, a resposta não é complexa... Em abstracto, porque ninguém com menos de 40 anos, e ainda por cima branco, tem alma para cantar blues. Em concreto, porque a música que a rapariga canta não podia ser mais datada.

Das duas uma, ou a rapariga optava por recriar o magnífico repertório de blues e soul que existe para ser trabalhado, mantendo-se fiel ao original e adaptando uma estética consonante, ou então optava por uma modernização do mesmo estilo, como faz a Mísia, ou até a Mariza, com o fado ou como a malta de Seattle fez com o punk.

Agora, uma miúda armada em Pink, com um visual forinha estilo descuidado-cuidado, a cantar umas canções que não são mais do que pastiches dos clássicos, enfim, não bate a bota com a perdigota. Pelo menos alguma coisa está relacionada com outra: o nome, Winehouse (=adega).

Confesso que escrevo este post por revolta com uma notícia que vinha no "Público" de sábado, onde se dizia que a rapariga subiu ao palco a fazer jus ao nome, com uma monumental farda, e se esqueceu das letras das canções, vociferando para o microfone "fuck it, fuck it, fuck it".

É de mim, ou, para além de tudo isto, alguém não leva a sua profissão a sério e goza com o público que paga para a ver?

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Fim de semana...

Está na hora de partir de fim-de-semana, ao som de Blur, a caminho da tranquilidade que só o campo, bucólico, proporciona. A música dos pássaros e da água do ribeiro a correr, numa pauta sem linhas nem notas.






"He lives in a house
A very big house
In the country
Watching afternoon repeats
And the food he eats"





Sábado pela tarde, outras músicas. O flamenco dos pregões da feira e o rock desordenado do movimento das pessoas, numa desenfreada correria à falsa pechincha, a fazer lembrar o desacerto de Alice in Chains e a força desenfreada dos Metallica





Lashing out the action, returning the reaction
Weak are ripped and torn away
Hypnotizing power, crushing all that cower
Battery is here to stay







Mais serena, a música das ondas do mar de Moledo, primeiro a rebentar na areia e depois o crepitar da espuma enquanto a onda recolhe, tudo muito jazz-ballad, como se fosse ao som do piano de Bill Evans.



Edvard Grieg (1843-1907)


No seguimento da chusma de boas notícias com que me tenho deparado, tomei conhecimento hoje pelo almoço que os meus pais, de vez em quando, passam por aqui. Assim sendo, e porque o meu pai, um classicista confesso e compulsivo e o maior resistente ao rock de que há memória, é o principal responsável pela minha dedicação à música, vou deixar aqui umas linhas sobre Edvard Grieg, sobre o qual sei que partilhamos a mesma opinião.

Mais uma vez insisto que não sou grande ouvinte de música clássica, mas há uma ou duas excepções... Grieg foi um compositor romântico norueguês que criou uma das mais belas peças de todos os tempos. Falo do primeiro movimento da primeira suite de Peer Gynt, chamado Morgenstimmung, em allegro pastorale, e que representa o nascer do sol.

Existem coisas dificeis de explicar através das teclas e as sensações que o Morgenstimmung desperta são, claramente, uma delas. Quantas vezes eu me deitei no chão, pus o disco a tocar bem alto, fechei os olhos, e me senti - sem que fizesse qualquer esforço imaginativo para tal - deitado na floresta, rodeado de árvores e imerso no cheiro da natureza, ouvi os pássaros a acordar e a começar a esvoaçar à minha volta, o sol calmamente a subir ao crescendo da música e o consolidar do novo dia de Grieg. Experimentem, e vão ver que é verdade.

Boas notícias.



Para um amigo que, às 00h17 de hoje, me deu a maravilhosa notícia de que o Pedro já nasceu, um disco especial.
Bem vindo, Pedro Távora!
Birth Of The Cool
Miles Davis
1950

Remember...


A propósito do lançamento de "Beauty & Crime", pela Blue Note, o novo álbum de Suzanne Vega, lembrei-me do extraordinário "Solitude Standing", de há precisamente vinte anos atrás, 1987.
Foi um disco claramente fora de tempo, uma singer/songwriter já depois do ocaso de Dylan e ainda antes do renascimento do mesmo movimento no final dos anos 90, mas que abriu caminho a uma geração onde se destacaram Tracy Chapman ou Sinéad O'Connor. O disco consegue o feito de, embora compilando diversas composições antigas e canções novas, ou seja, mais não sendo do que um pot pourri de elementos dispersos, consubstanciar uma unidade muito homogénea, muito por culpa da sobriedade, estabilidade e coerência das composições de Vega e do seu inegável talento. Rod Stewart cantava "Every Picture Tells a Story", no caso de Suzanne Vega, cada canção é uma história, cativante e criativa.
Quem não conhece "Luka"?

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Eles "andem" aí...


Tenho sido muito sido pressionado, offline, para trazer para a luz os esqueletos do meu armário. Ora, antes de mais, não respondo a pedidos offline, depois, gosto mais de achincalhar do que ser achincalhado e, por fim, nem 1000 Meatloaf's juntos chegam para uma Céline!

Não obstante, cá vai o primeiro: uma das músicas com mais onda que se fizeram ultimamente, e, porque não dizê-lo, mais sofisticadas, foi o "As", de 1999, de George Michael e Mary J. Blige. Sim, eu confesso... o George Michael, o mesmo do "Last Christmas" e "Wake Me Up Before You Go Go"...

Superstar

Como já tive oportunidade de por aqui dizer, independentemente do género - seja rock, jazz, pop ou até clássica - a música divide-se em duas vertentes absolutamente opostas: por um lado, a música feita de dentro para fora, isto é, um produto da inspiração do autor, condicionada apenas pela realidade que o influencia e não sujeita a qualquer imposição externa; por outro lado, a música feita para fora por dentro, ou seja, a música criada ao gosto do mercado, procurando reunir todas as características que melhor assegurem o seu sucesso comercial.

O mais bem conseguido produto das segunda vertente é, a milhas de distância da concorrência, o Robbie Williams. Em todos os sentidos. A imagem do produto – o “boneco” criado – é fabulosa, sendo a maior prova disso o facto de já ninguém se lembrar que ele era um dos rapazes que cantava, com vozinha aflautada e chupetas penduradas ao pescoço – o “Could It Be Magic”. Depois de um primeiro teste, ligeirinho, com uma cover do “Freedom” dos Wham!, numa altura em que os restantes Take That se atiravam – voraz e atabalhoadamente – ao mercado, e passado um salutar período sabático, um excelente disco: “Life Thru a Lens”, com a balada vendedeira radio-friendly, “Angels”, e um muito bem conseguido “Let Me Entertain You”, a canção e o vídeo ("...this is the place where the feeling grows...", canta ele) a abrir caminho para seguir por onde desse, sem se prender à limitativa imagem da referida “Angels”.
Os costumeiros fait divers do show-biz fizeram o resto do trabalho de imagem e a sua postura de gozo e desprezo acentuou o inegável carisma que se lhe reconhece.
A meu ver, o seu mais brilhante trabalho foi o “Rock DJ”. Por duas razões: primeiro porque a canção cantada por qualquer outra pessoa, sobretudo a parte inicial, era no mínimo, rídicula, e cantada por ele encanta; segundo, porque o teledisco, para qualquer outra pessoa era, no mínimo, ofensivo, e com ele, é genial.
Há uns tempos tive a oportunidade de o ver ao vivo no Pavilhão Atlântico (sendo, obviamente, gozado por todos os meus amigos…) e pude comprovar o seu brilhantismo e, insisto, o seu carisma. A certa altura, puxa uma histérica fã para o palco e prega-lhe um longo beijo com direito a escalope. Pensei: “uuui, tá armado em Bon Jovi… Parece o Springsteen no vídeo do Dancing in The Dark, estragou tudo… que foleirinho…”. A rapariga desce – à terra e à plateia – e Robbie volta atrás, olha para ela e diz: “Wait… I think I left my tongue in there!”. Estava feita, e sedimentada, a imagem do gozão, com a mania que é o maior. E é mesmo.

Mais arte para além da música



Há um nome que há de ficar sempre ligado à estética dos anos 90 na música: Stéphane Sednaoui. Nascido em Paris, mas actualmente a viver em Nova Iorque, começou por revelar o seu talento como fotógrafo de moda e veio ampliar o seu "raio de acção" também à realização e produção de vídeo e curtas metragens. Os mais geniais vídeos musicas da década passada têm a sua assinatura. Basta pensar nos mais marcantes que, inevitavelmente, o vamos encontrar na sua génese. Paradigmático, o "Give It Away" dos Red Hot Chilli Peppers. Mas lista é vasta: Tricky, U2, Garbage, REM, Alanis Morissette, Black Crowes e Björk, entre muitos outros. Curiosamente um dos vários vídeos que idealizou, produziu e realizou para Björk, o "Possibly Maybe" foi escrito por esta precisamente para "documentar" o fim da relação amorosa que existiu entre ela e Sednaoui. Está nos escaparates um DVD chamado "The Work of Director Stéphane Sednaoui", que contém vários dos seus geniais vídeos musicais e ainda uma série de outras instalações vídeo da sua autoria. Recomendado.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Excertos de Vinyl ao Vivo...

Confesso que tinha uma réstea de esperança de ter a casa cheia de vítimas do meu apelo ao apoio moral ao Vinyl. Mas a Casa do Livro é um bar tão bem conseguido que tal ideia era morta à nascença. Havia lá muita gente que nada tinha que ver com os discos perdidos e não precisava de levar com o "Rock and Roll Ain't Noise Pollution" dos AC/DC. E não levou...
Assim sendo, e porque me foi pedido para adequar a música ao espaço, deixei o rock mais rock no saco. De todo o modo, para além de uma pequena introdução de elecro-jazz, uma fuga pelo hip de Speech, e uma divagação por standards, com passagem obrigatória por "Mad About The Boy" cantado por Dinah Washington e pela Nina Simone, ainda consegui passar (sem ser agredido pelos simpáticos donos do bar) Drugstore, com "El President" na versão portuguesa, com a participação de Thom Yorke, dos Radiohead, e ainda empolgado por uma canção de que gosto tanto... Pimba! Sonic Youth, com "Youth Against Fascism".
Passei por Frank Zappa e Velvet Underground e, arriscando um bocadinho por ainda não ter passado tempo suficiente para maturar a música e torná-la no clássico que ela vai ser, "Praise You", de Fatboy Slim.
White Stripes, "The Hardest Button to Button", e a lindíssima - cantora e canção - "Your Love Has Got a Handle On My Mind", de Vanessa Paradis, com Lenny Kravitz nos coros e, do mesmo Kravitz, a sua canção com mais onda: "What Goes Around Comes Around".
Lá para o fim, disfarçadamente, ainda deu para passar pelos Doors, com "Love Her Madly". Tudo para acabar com o funk de Maceo Parker, com "My Baby Loves You".
Há muito tempo que não me divertia tanto...

Arte para além da música

O Álbum "Angel Dust", de 1992, para além da sua inegável qualidade musical tem uma das capas mais bonitas de que há memória. E em todos os pormenores. O tipo de letra escolhido, o degradé do azul e o líndissimo "passarão".
Os Faith No More, liderados pelo brilhante Mike Patton são uma das influenciadoras e experimentalistas bandas dos anos 90, e, de longe, a banda com mais coragem. Numa altura que o grunge fazia a música flectir em sentido melódico os FNM arriscam um disco de todo bizarro, a priori definido como conduzido por um fim egoísta. Ou seja, foi feito para ser arte. A faixa "Malpractice" tem um sample do "Quarteto de Cordas n.º 8", de Shostakovich, interpretado pelo Kronos Quartet. O arrojo chega ao limite de Mike Patton ter feito uma terapia de privação de sono, à base de cafeína e speeds, para testar a sua influência na criatividade e capacidade de composição. É nesse estado de vigília induzida que compõe "Caffeine" e "Land of Sunshine". No meio de tudo isto, e contrariando todas as expectativas, o lindíssimo "Midlife Crisis" chega a n.º 1. Brilhante em todos os sentidos.

O Vinyl também derrete...

Muito obrigado a todos pelo apoio nos "Discos Perdidos ao Vivo".
Fica prometida uma segunda dose após as férias.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Caloooor

O meu gabinete é virado a poente e tem uma janela de 2x2 metros nas minhas costas. A esta hora só consigo pensar no Billy Idol: "Hot in the city, hot in the city tonight..." Estou a derreter...

És muita linda.

Já que estamos numa de zurzir:

"Quero deitar-te numa cama de rosas,
Esta noite durmo numa cama de pregos
Quero estar tão perto como o Espírito Santo,
Quero deitar-te numa cama de rosas."

Volta Dino Meira, estás perdoado, vem cantar

"I'm back, I'm back,
I'm back from there,
Yesterday I was still in France
And now I'm already here."

Ignomínia Musical

Uma das coisas mais inteligentes que ouvi alguém dizer foi que falar mal dos outros não faz de nós melhores. Mas eu estou-me a marimbar. Há coisas de que me dá gozo falar mal. Em muito para isso contribui a indústria discográfica alemã, que nos oferece pérolas como os Scorpions ou o inefável Scooter.
Mas o melhor exemplo da criatividade alemã - onde Falco foi uma lança em África - é um duo formado em Berlim em 1983, que fez um enorme sucesso entre nós com o meloso "You're My Heart, You're My Soul". Falo dos Modern Talking. Para quem se lembra, tínhamos o moreno, que vestia fato branco sobre camisa branca ou fato preto sobre camisa preta e exibia uma longa melena com permanente e um pendente ao pescoço com o nome da namorada em brilhantes, e tínhamos o loiro, ao estilo do "Face" dos Soldados da Fortuna, cabelinho armado e camisinha dentro das calças de cintura no umbigo. Como se não fosse suficiente agressão aquele inenarrável conjunto de azeite, em perfeita sintonia, de imagem e música, conseguiram supreeender tudo e todos e alcançar um nível a que nem o Cliff Richard chegou quando, em 1986, lançam o single "Brother Louie".
É certo que todos passamos aquela fase de negação pública, eu lembro-me de ver o "Knight Rider" e o "MacGyver" às escondidas, porque era uma vergonha dizê-lo em público. E adorava o "Freedom" dos Wham!, mas cá fora só dizia que ouvia o Bryan Adams e o Bruce Springsteen, que era o que estava a dar. Agora, Modern Talking... Consciência tranquila.


Francesco






Começo o dia a pensar: "logo, tenho que passar qualquer coisa dele... era só o que faltava deixar este disco perdido". Começa-me a ecoar o "Cosmik Debris" na cabeça. E o "Bobby Brown" também. Nunca mais é logo à noite...

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Discos Perdidos ao Vivo

Um pequeno teaser para os Discos Perdidos ao Vivo:

"Birds flying high you know how I feel
Sun in the sky you know how I feel
Reeds driftin on by you know how I feel
Its a new dawn
Its a new day
Its a new life
For me
And Im feeling good"
Nina Simone
"Feeling Good"
1965

A Cavalgada das Valquírias


Enquanto escrevia o texto infra, lembrei-me de uma entrevista feita pela Vanessa Warwick, no "Headbanger's Ball", a Joey DeMaio, dos Manowar. Os Manowar são uma banda pouco séria, que faz um heavy-metal pimba cheio de aparato, com motas e explosões. Gabam-se de ser "the loudest band in the world".

A certa altura, pergunta Vanessa Warwick a DeMaio quais eram as suas principais influências, ficando à espera de ouvir algo do tipo Deep Purple, Black Sabbath ou Led Zeppelin.

DeMaio responde: "Wagner!"

Vanessa não acredita, faz uma cara de espanto, dá uma pequena gargalhada como quem diz "ok, diz lá a sério" e pergunta: "sorry?"

Agora é DeMaio que se surpreende, e riposta: "Wagner, Richard Wagner. O quê, não me digas que nunca ouviste a Cavalgada das Valquírias?"

Ela confessa que não e DeMaio explica: A Cavalgada das Valquírias é a abertura do terceiro acto da ópera "As Valquírias", de 1874, de Wagner, que integra a tetralogia "O Anel dos Nibelungos". É o mais puro heavy-metal, cheio de força, e, acima de tudo, velocidade. É música que nos move.

A partir desta explicação, Vanessa Warwick não fez mais perguntas, limitando-se a dizer... "ok, let's hear the new single."

1812

Em 1812, Napoleão tenta invadir a Rússia, numa iniciativa fracassada e devastadora para a sua Grande Armada. Em 1880, para comemorar tal feito das tropas russas, Tchaikovsky compõe a Abertura Solene para o ano de 1812.
O que me leva a escrever aqui sobre tal peça, depois de ter dito que não ligo nenhuma à música clássica, é o facto de a composição considerar um curiosíssimo instrumento musical. Nada mais, nada menos do que... canhões. Embora quando tocado em salas fechadas, o som dos canhões fosse substituído por tímpanos, nas execuções ao ar livre eram disparados tiros verdadeiros, em exultação patriótica. O resultado é notável.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

"The wealthiest person is a pauper at times,
compared to the man with a satisfied mind."

Jeff Buckley
Satisfied Mind
Sketches for My Sweetheart The Drunk, 1998
(J. Hayes, J. Rhodes)

Ao vivo




Os Discos Perdidos


Vinyl Ao Vivo


Terça-feira, 17 de Julho, 21h30


Casa do Livro, Porto


quinta-feira, 12 de julho de 2007

Rivolição (a destempo).


Acho uma certa piada ao slogan, muito bem esgalhado.

Gosto muito do Rivoli, no Rivoli há música.

Abomino musicais, mesmo os de Londres.

O teatro de revista, detestável, é o maior paradigma do nacional-parolismo.

Não gosto do trabalho do La Féria.

Incomoda-me muito subsididiar o círculo dos intelectuais.

Gosto mais de mar do que de Rio.

É por demais desrespeitoso um espectáculo chamado "Jesus Cristo Superstar".

São rídiculas as manifestações dos intelectuais dos subsídios.

Os musicais do La Féria esgotam salas.

Aos espectáculos dos selectos, para além dos próprios, nem as moscas vão.

Desta vez, o Abrunhosa não se algemou à porta.

Acho muito bem que concessionem o Rivoli a privados.

O privado ideal é o La Féria.

Pancadas de Moliére, e suba o pano.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Discos mesmo perdidos.

E porque o tema deste espaço não deixa de ser discos perdidos – o que torna um absoluto contrasenso trazer aqui obras como o Köln Concert ou o Sketches of Spain – vou lembrar uma banda, perdida e quase esquecida, que ainda assim deixou muitas marcas, positivas e negativas: os Transvision Vamp.
Formados em Londres em 1986, tornaram-se conhecidos com o single “I Want Your Love”, que integrava o álbum “Pop Art”, de 1988. O airplay concedido ao single, um punk rock ligeirinho, simples e orelhudo, e a imagem de Wendy James fizeram o resto. O follow-up, lançado no ano seguinte e a que chamaram “Velveteen” trouxe-os para uma fugaz ribalta, com o grande sucesso “Baby, I Don’t Care”.

O concerto dos Transvision Vamp no Pavilhão Infante de Sagres foi o maior acontecimento do Porto em 1989 para a minha geração. O Pavilhão completamente esgotado, o público em delírio (sobretudo o masculino) e um concerto cheiinho de força. Todavia, para a crítica, os Transvision Vamp nunca foram mais do que um flop, que apenas (sobre)vivia à custa da Wendy James. Na minha modesta opinião, e não obstante a música em si não mereça rasgados elogios, acho que os críticos nunca devem ter ouvido falar dos Blondie (e da muito bem conseguida relação imagem música, mas isso há de merecer um post “em exclusivo”) ou dos Pretenders (e da raça de Chrissie Hynde). Uma pega com a MCA, a editora, que não gostou do disco que se seguiu ao Velveteen, ditou o fim da banda, em 1991.

Estética

Vanessa Paradis - Be My Baby. Irresistível (a música, claro).

Escárnio & Maldizer

Perguntava-me ontem a Ursa Teresa, com o seu chapeuzinho de flores, porquê que eu nunca me tinha lembrado de aqui falar do Júlio Iglésias. A resposta que eu lhe dei é que o Júlio Iglésias é uma personagem, para este efeito, inócua. Ou seja, não tem especiais razões, positivas ou negativas, que justifiquem uma postadela (a não ser, talvez o facto de ter sido guarda redes do Real Madrid).
A este propósito, lembrei-me de umas personas que me põem mais mal disposto do que a ressaca do dia um de Janeiro. Autores das mais horríveis músicas de que há memória, comichosas, malcheirosas, pindéricas... enfim, blargh! Muito sinceramente, prefiro ouvir o Tony Carreira (a quem outro dia a Orquestra Eclipse, num arraial popular em que participei com todo o gosto, chamava Tony Carretera).
Se pela foto não chegaram lá... Ora pensem... "Red, Red Wine..."
Bolas, venha a Maria José Valério!

Música é isto...

No comments... Just feelings.

A Obra Prima

Respiro fundo, fecho os olhos, ganho coragem e... avanço. Vou falar do Köln Concert. Mais uma vez, confesso que não sei ler uma nota numa pauta, pelo que a minha autoridade e legitimidade para escrever uma linha que seja sobre "o" disco é pouco mais do que um rigoroso, esclarecedor e muito redondinho zero.

The Köln Concert foi gravado em 1975, perante uma Köln Opera House apinhada e ansiosa. Keith Jarrett, até se sentar ao piano, não tinha o mais pequeno projecto ou ideia do que iria tocar (o que não é marketing, mas a mais pura das verdades). Toda a brilhante construção melódica, construída ao sabor do tempo, brick by brick, é pura inspiração momentânea. Ou melhor, é a mais absoluta genialidade. Reza a lenda que Jarrett estava acometido de uma brutal dor nas costas, que se reflecte nos crescendos que se notam ao longo do percurso da sua construção. Este é um dos discos dos quais tenho, muito orgulhosamente, em vinil e em CD. Jarrett é um artista ostensivamente consensual. Ouvido pelos intelectuais da clássica, respeitado pelos forinhas do alternativo, estudado pelos roqueiros e idolatrado pelas gentes do jazz. Um dia, hei de ver Jarrett ao vivo.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Deus castiga!

Um dos grandes mistérios da história da música - que talvez só encontre paralelo na cubicagem dos implantes mamários da Samantha Fox ou na obscura razão pela qual os discos do Kenny G estão à venda na secção de Jazz da Fnac - é a carga de água pela qual um dos maiores génios criativos da música, Stevie Wonder, resolveu escrever (e não deitar fora o papel em que o fez) o "I Just Called to Say I Love You".
Mas quem faz uma atrocidade destas não pode ficar impune. E a Justiça Divina encarregou-se de castigar em conformidade.
Espero que alguém tenha contado ao Stevie Wonder que o Marco Paulo fez uma versão Onda Choc da sua escatológica canção: "Só Falei Para Dizer Que Te Amo." Toma!

O tempo é um azeitola.

Lembrei-me, já não sei a que propósito, do inenarrável e muito comichoso Can-can de Offenbach, uma espécie de “Canção do Imigrante” do Dino Meira com duzentos anos de antecedência, propensa ao bailarico dos refinadíssimos cabarets parisienses e das distintas senhoras que davam vigorosos pontapés no ar, reveladores do aparato das suas frondosas saias e do mais que elas encobriam. O Can-can, foi, aliás, a verdadeira inspiração por trás do parolo “You can leave your hat on” do Joe Cocker. Isto em consideração, não posso deixar de aqui partilhar o que eu sinto em relação à falsa e promíscua ligação entre a música e o tempo. Mais do que fazer a triagem a que estava obrigado, trazendo ao de cima as coisas boas que antigamente se faziam, o tempo – por força de modas que nos são impostas – faz-nos olhar, com condescendente ternura, para canções que ao tempo delas desprezávamos, e nos faziam mudar a estação do rádio mais depressa do que os primeiros acordes da canção do Titanic. Agora, já não são pirosas, pomposamente e com ar intelectual, chamamos-lhes kitsh, como se isso nos desse autorização moral para as ouvir, dançar, e até cantarolar. Ou seja, já não são azeiteiras, mas sim regadas por um fino e distinto néctar extraído do fruto da oliveira. Já não são horríveis, mas sim canções subsumíveis a um paradigma estético que se afasta de modo significativo do ideal. Subjugados que estamos à moda dos Anos 80, vamos sendo agredidos, e gostamos, por Culture Club's e afins, e ainda por recriações pastichentas de todo o néctar de oliveira que ao tempo se fazia (com especial relevo para a reserva especial Elton John e Bee Gees), tipo Scissor Sisters. Ao contrário daquilo que lhe competia, o azeitola do tempo esqueceu-se dos Fairground Attraction, Prefab Sprout, Stranglers, Simple Minds ou dos Spandau Ballett. Vá-se lá entender…

Abecedário feminino singular (incompleto...)

Annie Lennox
Björk
Carmen McRae
Dee Dee Bridgewater
Ella Fitzerald
Fernanda Abreu
Gwen Stefani
Heidi Muller
Irene Cara
Joan Baez
Kate Pierson (B52's)
Linda Perry
Marianne Faithful
Neneh Cherry
Ofra Haza
Patricia Barber
Queen Latifah
Rose Royce
Sarah Vaughan
Tracy Chapman
Ursula Rucker
Vanessa Paradis
Whitney Houston
Xana
Yazoo
Zélia Duncan

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Abecedário plural

Arrested Development
Black Crowes
Clash
Dead Kennedys
Earth, Wind & Fire
Faith No More
Guns n' Roses
Housemartins
Iron Maiden
Jehtro Tull
Kiss
Lemonheads
Metallica
Nine Inch Nails
Ocean Colour Scene
Paradise Lost
Queens Of The Stone Age
Radiohead
Stone Temple Pilots
Thunder
Ugly Kid Joe
Van Halen
White Stripes
Xutos & Pontapés
Yazoo
ZZ Top

Abecedário masculino singular

Art Garfunkel
Ben Harper
Charles Mingus
David Bowie
Eddie Van Halen
Frank Zappa
Gene Simmons (Kiss)
Harry Connick Jr.
Ian Astbury (The Cult)
Jim Morrison
Kurt Cobain
Lemmy Kilmister (Motörhead)
Mike Patton
Nusrat Fateh Ali Khan
Ozzy Osbourne
Pat Metheny
Quincy Jones
Richard Ashcroft
Stan Getz
Tim Buckley
Uri Caine
Vince Neil (Motley Crue)
Withfield Crane (Ugly Kid Joe)
Xico César
Yo-Yo Ma
Zack Wylde

Modern Standards.

Depois de ter sido ostensivamente achincalhado pela minha partenaire de gabinete e pelos xadrezinhos da cidade dos briquedos, a propósito dos meus posts sobre o fabuloso Nusrat Fateh Ali Khan, resolvi trazer para aqui qualquer coisa mais easy-listening.
"Sex Without Bodies", é um disco de 1998, de "Dave's True Story", um dueto de Manhattan, e é uma extraordinária compilação de originais (à excepção de uma cover de "Walk on the Wild Side", de Lou Reed), que, à nascença, se perfilam já como verdadeiros jazz standards. A voz de Kelly Flint é altamente "espacial" e enternecedora e todo o conjunto resulta soberbo. Nas palavras de Thomas Schulte: "This pairing of a wordmeister and a mistress of hip lounge is a rare and wonderful thing, so enjoy it."


domingo, 8 de julho de 2007

Nusrat Fateh Ali Khan - Sani Ik Pal Chain Naa aavey solo

No seguimento do post anterior. Eu sou um esteta. A beleza na espiritualidade é que me alimenta a alma. Palavras para quê... eu sei que vocês me compreendem.

Nusrat Fateh Ali Khan (1948-1997)


No início desta semana, uma das maternais tias que me vão lendo, a propósito de um post que eu por aqui deixei, em que divagava sobre países e músicos, perguntou-me: "Mas como é que tu conheces um músico do Paquistão?"

Eu explico...

Um dos meus músicos de referência é o Jeff Buckley. Ora, como eu padeço de uma quase patológica curiosidade em saber mais sobre o que realmente me interessa, encomendei pela Amazon uma biografia, muito interessante, chamada "Dream Brother", que estabelecia um paralelo entre a curta vida dos dois Buckley, Tim e Jeff, pai e filho. Foi nesse livro que descobri a devoção que o filho Jeff tinha por Nusrat Fateh Ali Khan, de quem eu nunca tinha ouvido falar. Andei a "googlar", e descobri que tinha diversos discos editados pela Real World, a editora criada pelo Peter Gabriel para divulgação de música do mundo. Claro, depois de "googlar", fui "fnacar", e comprei o "Shahbaaz" e o "Musst Musst". Apaixonei-me pela música. Nunca tinha ouvido uma música que extravasasse tanto o mero som (e isto não é só uma figura de estilo), os próprios interpretes entram em absoluto transe, o que se explica pela natureza religiosa que lhe está subjacente.

A música que Nusrat Fateh Ali Khan interpreta chama-se Qawwali, e é uma música devocional dos sufi, com mais de 700 anos de história, com génese na Pérsia, no século VIII. Manteve-se fechada no subcontinente indiano, de onde é originária, até á exposição global que começou a ter, precisamente, quando Nusrat Fateh Ali Khan foi alavancado pela Real World. Facto que foi incompreendido pelos radicais, que muito o censuraram, mas que muito fez pelos sufis. As canções, todas extensas, são cantadas em Urdu ou em Punjabi e toda a poesia é espiritual, exultando o amor e a devoção a Deus. A música é de uma beleza imensurável. Mais uma vez, altamente recomendado, ainda que com o risco de os vossos amigos depois dizerem: "Que coisas esquisitas que tu ouves..."

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Mistérios...



Mas porque carga de água é que Enio Morricone, aclamadíssimo compositor de pérolas como Cinema Paradiso, brilhantemente re-interpretado por Charlie Haden & Pat Metheny em Beyond The Missouri Sky, sobre o qual já aqui escrevi, se lembrou de gravar um disco com... a Dulce Pontes? O que virá por aí? Keith Jarrett acompanhado à sanfona por Quim Barreiros? Jorge Palma & Mikael Carreira? Madredeus featuring Zé Cabra?

Enio Morricone & Dulce Pontes - Focus, 2004.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Sempre o mestre Miles



Miles Davis

Sketches of Spain

Columbia, 1959/60

Antes de mais, permitam-me que vá adiantando que este não é um disco perdido. Este é um dos seminais álbuns do grande mestre Miles Davis, o terceiro de uma profícua e muito reconhecida série de colaborações com o genial orquestrador Gil Evans. Foi gravado entre Novembro de 1959 e Março de 1960, e consiste, fundamentalmente, numa muito fiel re-interpretação do "Concierto de Aranjuez", de Joaquín Rodrigo, à qual acrescem uma composição de DeFalla e três originais, de inspiração flamenca, do próprio Gil Evans. É, mais uma vez, (começo a pensar que pendo sempre para aqui...) um disco marcadamente estético. Porque este fim de semana me sinto parte em Espanha, fica a recomendação.

Deee Lite - Groove Is In The Heart

Em que dá a mistura de uma vocalista americana de gema, um DJ russo e um DJ japonês? Resposta: muuuuuito groove.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Poison - Something to Believe In

Eh Pá! Eu nasci em 1975, e não percebo nada de música. Tenho o direito de gostar, de adorar, isto! Rock FM, Hair-Metal, Balada Heavy-Metal, o que quiserem. Gosto e pronto!

Alice In Chains

Heaven Beside You, no MTV Unplugged. Última aparição pública do Layne Staley, que nesta altura já nem cantava, sendo o Jerry Cantrell a "tomar conta das operações". Grande perda para a música.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Émepêquê???

O velhinho disco de vinil. Olhar para a capa enorme de cartão, gasta pelo tempo e pelo manuseamento, cheia de pó. Tirar o disco, envolto no plástico basso folgado ou na saqueta de plástico transparente coladinho, tirar de lá de dentro a enorme folha com as letras e pousá-la nos joelhos. Pegar no LP, pela borda, para não sujar com dedadas, e pousar no prato. Ajustar para 33rpm, arrancar o prato e limpar o disco com a escovinha. Pôr o botão do amplificador no phono, pousar a agulha no início e começar a ouvir o tão típico crshhhhrrssshhhh...
As cassetes. Tantas horas passei eu a gravar centenas de cassetes, piratadas dos LP's e depois dos CD's. Fazer as contas ao tempo, 60 ou 90, para ficar a menor folga possível no fim de cada lado e não interromper nenhuma música. Pensar naquelas canções que têm menos de dois minutos para encaixar no espaço vago. Olhar para a fita, enrolada na bobine da esquerda, e calcular a olho qual é a música que ali cabe. A liberdade de fazer o nosso próprio "best of". Ser obrigado a ouvir a música toda, porque não há botão de "skip", a curiosidade de saber o que vem a seguir, porque já não pegamos naquela cassete ao tempo... Lembrar-mo-nos que queremos ouvir "aquela" música e dominarmos o "rew" e o "ff" à velocidade da luz, parar mesmo naquele sítio e depoís... play.
O CD. Como ainda outro dia aqui disse, sentar-me em frente à minha colecção, de perninhas à chinês, olhar para ela com orgulho e vaidade, escolher um CD, pôr no leitor, olhar para a capa e nela descobrir um pormenor novo de cada vez, pegar no livrinho e folhear, ler com atenção a parte dos agradecimentos à procura de algum nome conhecido, descobrir que os produtores são muitas vezes os mesmos, sentar-me no sofá com a caixa do CD na mão, e ouvir, ligar a música a sítios, pessoas, fases da vida...
Agora, "sacar" uma música e clicar... Chamem-me velho, romântico, anacrónico, o que quiserem, mas a música é tão mais do que um mero ficheiro...

segunda-feira, 2 de julho de 2007

When the going gets tough, the tough get going

Uma selecção musical especial, de todos nós, para aquela que tudo merece.

Queen - Friends Will Be Friends;
The Housemartins - You've Got a Friend;
Dionne Warwick - That's What Friends are For;
The Beatles - With a Little Help From My Friends;
Des'ree - You Gotta Be (You gotta be tough, you gotta be stronger, You gotta be cool, you gotta be calm, You gotta stay together, All I know, all I know, love will save the day);

e porque bem a conhecemos,

Billy Ocean - When The Going Gets Tough, The Tough Get Going (que é como quem diz: uén de gouingue guétse tâf, de tâf guéte gouingue).

Notícia do dia...



John Scofield com Medeski, Martin & Wood

Casa da Música, 6.7.2007, 22h

Já cá cantam dois bilhetes na 4.ª fila. Nunca disse com tanta vontade "Nunca mais é 6.ª feira!!!"

Now playing...



Obrigado, Mafarrico.

domingo, 1 de julho de 2007

Momentos

"The Globe", Estocolmo, Suécia, 29 de Agosto de 1992, 9h30 da noite, lotação completamente esgotada há mais de 3 meses. Uma digressão que havia começado em 5 de Junho, com um concerto no Laugadallsholin, em Reykjavic, na Islândia, terra natal de Björk, e haveria de terminar a 24 de Maio de 1993 em Belfast, na Irlanda. Os escandinavos sempre foram conhecidos por ter um gosto muito marginal, veja-se os fenómenos Morbid Angel e Terje Rypdal, em campos opostos, ou o sucesso de vendas dos portugueses Moonspell. Não obstante, e para surpresa de todos a sala do The Globe estava tomada por uma incontrolável histeria colectiva, muito acima do expectável para os sisudos suecos. Chorava-se. Ás 9h40 soavam os primeiros acordes da poderosíssima "Be quick or be dead", a multidão regozijava. Os Iron Maiden tomavam a Suécia. Estavam em estado de graça. Depois de mais de vinte anos de história, os fundadores de uma corrente musical a que a crítica chamou "new wave of british heavy metal" viam finalmente reconhecido o seu seminal papel na evolução do rock pelo estrondoso sucesso do álbum "Fear of the Dark", de 1991 (por sinal, o primeiro CD da minha colecção, comprado no Carrefour por 2.900$00, dias depois do seu lançamente).
Eis senão quando... entre duas canções, um intervalo mais prolongado... Quatro notas nos címbalos de Nicko McBrain, uma guitarra muito suave de Janick Gers... e entra Bruce Dickinson, conhecido como "The Screaming Siren", muito lentamente com as primeiras estrofes de "Afraid to shoot strangers"... A canção continua num quase imperceptível crescendo, e 2 minutos e meio depois do seu início entra num dos mais bonitos solos da história do rock... o feedback do público é fenomenal... Um minuto depois depois, rebenta num solo de metal à séria... Up the Irons!