terça-feira, 3 de julho de 2007

Émepêquê???

O velhinho disco de vinil. Olhar para a capa enorme de cartão, gasta pelo tempo e pelo manuseamento, cheia de pó. Tirar o disco, envolto no plástico basso folgado ou na saqueta de plástico transparente coladinho, tirar de lá de dentro a enorme folha com as letras e pousá-la nos joelhos. Pegar no LP, pela borda, para não sujar com dedadas, e pousar no prato. Ajustar para 33rpm, arrancar o prato e limpar o disco com a escovinha. Pôr o botão do amplificador no phono, pousar a agulha no início e começar a ouvir o tão típico crshhhhrrssshhhh...
As cassetes. Tantas horas passei eu a gravar centenas de cassetes, piratadas dos LP's e depois dos CD's. Fazer as contas ao tempo, 60 ou 90, para ficar a menor folga possível no fim de cada lado e não interromper nenhuma música. Pensar naquelas canções que têm menos de dois minutos para encaixar no espaço vago. Olhar para a fita, enrolada na bobine da esquerda, e calcular a olho qual é a música que ali cabe. A liberdade de fazer o nosso próprio "best of". Ser obrigado a ouvir a música toda, porque não há botão de "skip", a curiosidade de saber o que vem a seguir, porque já não pegamos naquela cassete ao tempo... Lembrar-mo-nos que queremos ouvir "aquela" música e dominarmos o "rew" e o "ff" à velocidade da luz, parar mesmo naquele sítio e depoís... play.
O CD. Como ainda outro dia aqui disse, sentar-me em frente à minha colecção, de perninhas à chinês, olhar para ela com orgulho e vaidade, escolher um CD, pôr no leitor, olhar para a capa e nela descobrir um pormenor novo de cada vez, pegar no livrinho e folhear, ler com atenção a parte dos agradecimentos à procura de algum nome conhecido, descobrir que os produtores são muitas vezes os mesmos, sentar-me no sofá com a caixa do CD na mão, e ouvir, ligar a música a sítios, pessoas, fases da vida...
Agora, "sacar" uma música e clicar... Chamem-me velho, romântico, anacrónico, o que quiserem, mas a música é tão mais do que um mero ficheiro...

6 comentários:

Anónimo disse...

A descrição está perfeita...era (ainda é para os dinossauros que têm "gira discos")mesmo assim.
E as saudades que dá......
Em miúda gostava particularmente da escovinha - devidamente forrada a veludo azul - com que o meu pai limpava os discos.
Já o "mp qualquer coisa" não me diz nada, até porque não sei sequer como funciona e, confesso, ainda não me dei ao trabalho de aprender.

Unknown disse...

Perfeito!

Luna disse...

Tão...TU..
Saudades do "tempo das cassetes".. Quanto a mim a única desvantagem: a falta de legenda, sendo ao mesmo tempo cativante "a curiosidade de saber o que vem a seguir, porque já não pegamos naquela cassete ao tempo..."- e surpreendente ao constatar que, apesar do passar do tempo, depois de tanto ter sido ouvida, ainda sabemos ao certo toda a sequência de músicas..
E sabe tãooo bem recordar esses momentos..

Vinyl disse...

Obrigado a todos. O vosso feedback preenche-me. ;-)

Juoum disse...

Que texto fantástico!!
Só te esqueceste das horas que ficávamos colados aos rádios para gravar aquela musica na Cassete e rezávamos para que a meio da musica ninguém se lembrasse de anunciar algo...
Gostei do teu blog... vou perder alguns momentos a cuscubilhar isto aqui... se não te importares!!

Abraços
João Rato


P.S.: Sobre o texto só tenho a acrescentar: "Vejam como eu evoluí e como o mundo evoluiu comigo"

Joana Blu disse...

Ainda o vinil: não gostar da primeira música do disco. Tentar colocar a agulha no risquinho que separa a primeira da segunda, com o indicador a tremer cada vez mais à medida que a agulha se aproxima do disco. Deixá-la cair nervosamente. Nunca acertar no início da segunda música.
Ainda a cassete: ficar em êxtase porque há o pai de um amigo que tem um leitor de cassetes super-evoluído que lê os dois lados seguidos. Ir pra lá uma tarde inteira gravar cassetes. Ter uma música que parte no fim do Lado A mas recomeça no mesmo ponto no princípio do Lado B.
Ainda o CD: comprar o CD que tem a capa fininha de cartão em vez da de plástico. Ficar a olhar pra ele porque é muito mais bonito do que todos os que temos em casa. Abrir com cuidado os dois lados do cartão para não amassar, deixar o CD deslizar-nos devagar para os dedos.

DEFESA DO MP3: poder ouvir centenas de músicas, cantores e bandas que nunca ouviria nem conheceria de outra forma. Ir correr ao fim do dia sem os 5 kgs do walkman com respectiva cassete a aumentarem desnecessariamente o exercício. Escolher o modo «random», cada música ser uma surpresa.