No início desta semana, uma das maternais tias que me vão lendo, a propósito de um post que eu por aqui deixei, em que divagava sobre países e músicos, perguntou-me: "Mas como é que tu conheces um músico do Paquistão?"
Eu explico...
Um dos meus músicos de referência é o Jeff Buckley. Ora, como eu padeço de uma quase patológica curiosidade em saber mais sobre o que realmente me interessa, encomendei pela Amazon uma biografia, muito interessante, chamada "Dream Brother", que estabelecia um paralelo entre a curta vida dos dois Buckley, Tim e Jeff, pai e filho. Foi nesse livro que descobri a devoção que o filho Jeff tinha por Nusrat Fateh Ali Khan, de quem eu nunca tinha ouvido falar. Andei a "googlar", e descobri que tinha diversos discos editados pela Real World, a editora criada pelo Peter Gabriel para divulgação de música do mundo. Claro, depois de "googlar", fui "fnacar", e comprei o "Shahbaaz" e o "Musst Musst". Apaixonei-me pela música. Nunca tinha ouvido uma música que extravasasse tanto o mero som (e isto não é só uma figura de estilo), os próprios interpretes entram em absoluto transe, o que se explica pela natureza religiosa que lhe está subjacente.
A música que Nusrat Fateh Ali Khan interpreta chama-se Qawwali, e é uma música devocional dos sufi, com mais de 700 anos de história, com génese na Pérsia, no século VIII. Manteve-se fechada no subcontinente indiano, de onde é originária, até á exposição global que começou a ter, precisamente, quando Nusrat Fateh Ali Khan foi alavancado pela Real World. Facto que foi incompreendido pelos radicais, que muito o censuraram, mas que muito fez pelos sufis. As canções, todas extensas, são cantadas em Urdu ou em Punjabi e toda a poesia é espiritual, exultando o amor e a devoção a Deus. A música é de uma beleza imensurável. Mais uma vez, altamente recomendado, ainda que com o risco de os vossos amigos depois dizerem: "Que coisas esquisitas que tu ouves..."
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