terça-feira, 10 de julho de 2007

O tempo é um azeitola.

Lembrei-me, já não sei a que propósito, do inenarrável e muito comichoso Can-can de Offenbach, uma espécie de “Canção do Imigrante” do Dino Meira com duzentos anos de antecedência, propensa ao bailarico dos refinadíssimos cabarets parisienses e das distintas senhoras que davam vigorosos pontapés no ar, reveladores do aparato das suas frondosas saias e do mais que elas encobriam. O Can-can, foi, aliás, a verdadeira inspiração por trás do parolo “You can leave your hat on” do Joe Cocker. Isto em consideração, não posso deixar de aqui partilhar o que eu sinto em relação à falsa e promíscua ligação entre a música e o tempo. Mais do que fazer a triagem a que estava obrigado, trazendo ao de cima as coisas boas que antigamente se faziam, o tempo – por força de modas que nos são impostas – faz-nos olhar, com condescendente ternura, para canções que ao tempo delas desprezávamos, e nos faziam mudar a estação do rádio mais depressa do que os primeiros acordes da canção do Titanic. Agora, já não são pirosas, pomposamente e com ar intelectual, chamamos-lhes kitsh, como se isso nos desse autorização moral para as ouvir, dançar, e até cantarolar. Ou seja, já não são azeiteiras, mas sim regadas por um fino e distinto néctar extraído do fruto da oliveira. Já não são horríveis, mas sim canções subsumíveis a um paradigma estético que se afasta de modo significativo do ideal. Subjugados que estamos à moda dos Anos 80, vamos sendo agredidos, e gostamos, por Culture Club's e afins, e ainda por recriações pastichentas de todo o néctar de oliveira que ao tempo se fazia (com especial relevo para a reserva especial Elton John e Bee Gees), tipo Scissor Sisters. Ao contrário daquilo que lhe competia, o azeitola do tempo esqueceu-se dos Fairground Attraction, Prefab Sprout, Stranglers, Simple Minds ou dos Spandau Ballett. Vá-se lá entender…

4 comentários:

Joana Blu disse...

Era escusada mais uma patada na nossa querida Celine...

Anónimo disse...

A patada na Celine já é tique nervoso...e também serve para ver se a ursa teresa perde as estribeiras e atira com o chapeuzinho de flores para o chão......

Vinyl disse...

Andamos todos para aqui a disfarçar... (qual céline, qual quê, aqui entre nós, eu sei que a Ursa Teresa não resiste a verter uma lagrimita ao som das lindas baladas da ágata...)

Anónimo disse...

E diga lá se quando foi ver a Orquestra eclipse não estava à espera de ver a Ágata ou a Romana.....não esconda....
admita....e também sei que, no fundo é um admirador da Céline e ouve com o som no máximo a versão mais "estridente" do Titanic (naturalmente que colocando-se em cima do sofá e de bracinhos abertos a imitar o Di Caprio)